quarta-feira, 11 de dezembro de 2019


Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você;
Mas você anda
Sem dúvida bem zangada
E está interessada
Em fingir que não me vê.

Você que atende ao apito
De uma chaminé de barro,
Por que não atende ao grito tão aflito
Da buzina do meu carro?

Você no inverno
Sem meias vai pro trabalho,
Não faz fé com agasalho,
Nem no frio você crê.
Mas você é mesmo
Artigo que não se imita;
Quando a fábrica apita
Faz reclame de você.


Sou do sereno
Poeta muito soturno,
Vou virar guarda noturno
E você sabe por quê.
Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto do piano
Estes versos pra você.

Nos meus olhos você vê
Que eu sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente impertinente
Que dá ordens a você.


Três Apitos, de Noel Rosa.


Aos 109 anos de nascimento do Poeta da Vila Isabel.

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